segunda-feira, 28 de julho de 2008

Festival de Inverno de Atibaia



Egberto, Mago Gismonti

Egberto Gismonti




Ana Canãs - Festival de Inverno Atibaia
Centro de Convenções Victor Brecheret

Benjamim Herman



Benjamim Herman - Festival de Inverno de Atibaia

Vandalismo, represália, razão moral ou artística?

Vandalismo, represália, razão moral ou artística?

“A beleza habita a relação. A relação que um determinado sujeito (com uma determinada percepção) mantém com um objeto.” (João Francisco Duarte Junior)

Marta Alvim

Por dever de cidadã e de ofício trago à tona algumas reflexões que de maneira nenhuma pontuo como definitivas sobre a destruição da obra Mandorla, mas que registrem a indignação e possam abrir discussões.
Em 10 de julho foi inaugurado em Atibaia o Museu de Arte Ecológica. Além do aspecto comemorativo (25 anos do Tombamento da Serra do Itapetinga), o projeto prevê inserir na paisagem urbana um parque escultórico, no qual as obras de arte estejam ao alcance do olhar dos passantes, tornem-se elementos interventores de renovação e diálogo, e por meio da experiência estética restituam a identidade coletiva que tem se perdido ao longo do tempo.
Na rotatória da Avenida Juca Peçanha com Nossa Senhora do Sion, justamente por ter sido ali, na década de 80, o ponto de venda dos lotes da serra foi instalada a obra Mandorla, assinada pelo artista e mentor intelectual do movimento Euclides Sandoval. Dois dias depois a obra foi destruída, provavelmente a marretadas, fato que despertou perplexidade no meio artístico e população atibaiense. O diálogo foi brutalmente interrompido.
Paradoxalmente Mandorla simboliza interações e interdependência dos mundos opostos e de forças (Jensen. B. Mandorla Antigo Símbolo da Integridade). As referências a “Vesica Piscis” nos falam da dualidade destas forças: o bem e o mal, a vida e a morte, o racional e a mente contemplativa, a criação e a destruição.
Quem cria, e quem destrói? Quais as forças que conduzem ações tão opostas? O que leva ao ato de destruir uma obra de arte?

Razão moral ou artística

O que é beleza senão o sentir individual. Cada um de nós a identifica de modo diferente, de acordo com a bagagem perceptiva. No entanto para que se conclua a experiência estética é necessário que haja a ruptura com o pragmatismo conceitual e simbólico, com os modelos pré-estabelecidos por uma espécie de ditadura do belo. Será que pelo fato da não satisfação do gosto pessoal uma determinada obra não tem valor?
Se houve razão artística ou moral, se é que podemos assim denominar a justificativa para a destruição de Mandorla, quem o fez não entende nada de arte, muito menos de moral, mas sim de intolerância, uma das piores formas de tirania do homem.
Seja qual for a razão e, sobretudo, apesar da destruição material, a essência permanece, e Mandorla estará sempre intacta através de seu criador.

Segundo Euclides Sandoval

“Como entra a obra na cultura de Atibaia? Artes podem causar escândalos ou constrangimentos? Surrealista, realista, naturalista? A classificação importa pouco.
Há algo além da própria intenção do autor ou dos promotores pelo fato de colocá-la ali, na entrada de uma rua, chamada avenida, antes de terra, agora asfaltada? O local tem importantes significações ligadas ao culto da Serra e da Pedra? Desde a época do Movimento Ecológico em Defesa da Pedra Grande não ocorrem fatos excitantes na cidade. A vida é tediosa... para quem? Hoje acontece verdadeiro boom cultural e artístico... O que não ocorre há décadas ou séculos.
Parece que a Mandorla foi protagonista a ativar melodramas pessoais.
Mandorla, heroína de uma morte verdadeira. Ela desapareceu como a cruz, cujo braço foi quebrado, e a vela branca. Quem deformou a cruz talvez a veja como símbolo, e a vela possa ser buscada ao longe, nas brumas da Serra do Itapetinga. Claro que a Mandorla homenageava o antigo sítio dos Peçanha, as curvas da Serra e da Pedra, lembrando o feminino abrangente da Natureza. Todos personagens expostos, só faltando o representante de um vilipêndio.”