quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cinema com Pipoca

Em 21 de janeiro, no Cine Atibaia, inserido na programação do Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual, Euclides Sandoval lançou o livro Cinema com Pipoca. A obra traz uma compilação de textos informativos e reflexivos sobre clássicos do cinema exibidos na década de 80, nas sessões do Cineclube InterAção Ecológica, quando fervilhavam ideologias no centro de um dos mais importantes movimentos culturais e ambientais de Atibaia.
Estes textos de Euclides Sandoval serviram como ponto de partida para os debates que aconteciam após cada sessão de cinema realizada no Museu João Batista Conti.
O movimento cineclubista ganhou força. As sessões foram levadas para centros comunitários, praças, colégios, bares, clubes, Câmara Municipal e outros bairros. Destaca-se, do movimento, entre outras realizações, a 1ª Mostra Jovem de Cinema Surreal que contou com a parceria da Cinemateca Brasileira.
Nesta época o cinema brasileiro passava por uma grave crise (a maioria das edificações eram demolidas e transformadas em estacionamentos, ou outro comércio), em Atibaia os cines Paraíso e Itá haviam sido desativados. O movimento foi fundamental para o fortalecimento e resgate desta arte.
Cinema com Pipoca traz 40 títulos que inspiraram subtítulos e textos despertadores de reflexões. Cada filme é fio condutor para questionamentos sociais, políticos e filosóficos. Uns apontam valores perdidos durante o processo civilizatório – põem o dedo na ferida do status quo, outros priorizam a fantasia, a poesia.
O texto de O Enigma de Kaspar Hauser, obra-prima de Werner Herzog, por exemplo, percorre o caminho dos sentidos (ou a atual ausência deles). Abaixo o utilitarismo, grita Sandoval, citando Lauro de Oliveira Lima: “Temos o gene da diversidade, mas a massificação é tão intensa que poucos se dão conta de que somos computadores programados para fazer crochê”, e conclui: “E, de repente, o próprio crochê, como no caso de Kaspar Hauser, pode ser a alternativa de escape para quem é visto como caixa - de - respostas, ou figura exótica capaz de quebrar a pasmaceira hipócrita de socialites e esnobes enfadonhos”.
Em Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, baseado no clássico de Graciliano Ramos, o autor nos lança no território da miséria e dos excluídos, aliás, condição universal contemporânea.
Tomates Verdes Fritos, de Jon Avnet, inspira o demasiado humano, no qual, encontramos a “Receita para quem quer refletir em época de crises, ou de modelo econômico fracassado, quando se privilegia o mercado, não o homem e os sentimentos”. E por ai vai, numa sequência de obras-primas.
Para Sandoval não há pretensão em fazer crítica de cinema, e afirma: “Pus meu coração e mente no livro”.
Além das fichas, Cinema com Pipoca contempla o leitor com dados históricos do surgimento do cineclubismo em Atibaia. Do movimento precursor da década de 45, capitaneado por André Carneiro e César Mêmolo, com as Sessões Especiais de Cinema e Arte, até o atual Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual.
O livro é delicioso! (vamos explorar os sentidos). E não poderia ser diferente - sob o tratamento sensível de Euclides Sandoval os sabores fluem como frutos colhidos no pé.
Como sugere o autor, experimente ler o livro ouvindo composições clássicas do cinema. Sugiro Ennio Morricone e orquestra.
Ficha Técnica: Cinema com Pipoca, edição e realização do Instituto de Arte e Cultura garatuja, projeto gráfico de Marcio Zago, impresso na Gráfica Redijo e patrocinado pela Prefeitura da Estância de Atibaia.

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