terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Marisa Lajolo no Café Filosófico Terra Brasil

Os cafés filosóficos surgiram em Paris, França, em 1992, por iniciativa do filósofo Marc Sautet. Rapidamente o evento encontrou seguidores em vários países, incluindo o Brasil, onde primeiramente surgiu em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na França, atualmente existem mais de 250 locais de reuniões espalhados por todo seu território.
Em 2008, a Escola Terra Brasil numa atitude ousada resolve fazer parte deste universo e traz para Atibaia o Café Filosófico promovendo quatro encontros com as presenças de renomados professores da Pontifícia Universidade Católica, PUC – Campinas. Em agosto de 2009, a quinta edição contou com a brilhante participação de Marisa Lajolo que discorreu sobre “A importância da leitura em nossas vidas e o momento que começamos a compreender o mundo em nossa volta”. Formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também fez mestrado e doutorado. Lajolo é pós doutora pela Brown University e atualmente professora titular no Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O Terra Brasil em Foco entrevistou Marisa Lajolo para conhecer um pouco mais sobre sua vida pessoal e profissional.


Infoco: A paixão pelas palavras e livros nasceu quando?
Lajolo: Quando eu ainda era menina. Meus pais me contavam muitas estórias e me incentivavam à leitura. Mais tarde, na escola, os professores indicavam livros aos alunos, aos doze anos li Inocência de Visconde de Taunay. Também gostava de ganhar livros de presente. Lembro-me de um em especial: O Velho e o Mar, de Hemingway.
Infoco: Cite um autor que te emociona.
Lajolo: Não vou falar de Monteiro Lobato que é meio óbvio. Acho que, Jorge Amado.
Infoco: Música combina com palavras?
Lajolo: Muito. Aliás, as palavras são sonoras. Acho que eu tenho mais ouvido para a música das palavras que as musicais... Ouça a rima, o trocadilho, é música pura.
Quanto a estilo, gosto de música popular brasileira, de Chico Buarque e Caetano Veloso. Ultimamente tenho ouvido com mais atenção os grupos de periferia, os cantores de rap, que representam para um grupo bastante significativo de jovens de hoje, o que Chico representou para a minha geração.
A arte, nela mesma, não tem valor ético, ela educa tanto para o bem quanto para o mal.
Infoco: Cite uma frase ou palavra que seja importante.
Lajolo: Citando Drummond: É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio..
Infoco: Uma personalidade que admira.
Lajolo: Martin Luther King e, no Brasil, Monteiro Lobato.
Infoco: Seu trabalho é sensivelmente voltado ao incentivo à leitura entre jovens. Como vê a obrigatoriedade da leitura de determinados títulos e autores com finalidade específica, ou seja, passar no vestibular. Não acha que a paixão pela leitura deveria ocorrer por meio da liberdade de escolha, pelo prazer?
Lajolo: Atualmente há dezenas de pesquisas que concluem coisas opostas, tanto de um lado quanto de outro. O problema é o seguinte: hoje em dia muitos jovens não têm autonomia de leitura, faltam repertório e vocabulário para compreensão do texto. Há necessidade de uma base técnica que antecede à leitura. Por outro lado, se você deixar, os jovens só lerão o que é mais fácil de entender.
Infoco: Sabemos da importância da leitura, mas como despertar o interesse de crianças e jovens oriundos de famílias sem nenhum recurso cultural?
Lajolo: Um grande desafio da escola e do professor. É importante as crianças terem acesso aos livros. É um passo fundamental, contudo, mais importante é o comprometimento do professor com a leitura, senão, de que adianta ter a melhor biblioteca ? . O professor é mais importante que um secretário de educação.

Infoco: Como vê a iniciativa da Escola Terra Brasil em promover os cafés filosóficos?
Lajolo: Tive a melhor das impressões. A experiência mostrou-me que temos que usar a criatividade para trazer mais eventos culturais. Adorei o convite. O público prestou atenção, o ambiente é muito acolhedor, ambiente de café, intimista. Seria interessante que todas as escolas fizessem o equivalente. Não podemos nos acomodar diante da carência cultural.

Marisa Lajolo é ganhadora do Prêmio Jabuti 2009

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